O Concelho de Soure possui um oásis de biodiversidade, o Paul da Madriz. Situado num vale cada vez mais uniformizado mas que ainda possui áreas agrícolas e florestais de elevado interesse para a avifauna, esta área surge-nos como uma ilha de esplendorosa natureza e vida selvagem. É um espaço pouco significativo em termos de área ocupada, mas pleno de diversidade, de beleza, de valor, de importância na sobrevivência das espécies.

É também um espaço que continua a ser muito ignorado, ou menosprezado na sua importância por quem lhe passa ao lado sem o procurar ver, conhecer e perceber. O Paul abrange uma área de cerca de 40 hectares, de forma trapezoidal e alongada de SE para NO, alargando-se para a zona ocidental, com cerca de 2 km de comprimento e uma largura média de 300 m, sendo drenado pela Vala do Moinho que o atravessa e se liga à Vala do Canal. A área do Paul foi ocupada principalmente pelo cultivo intensivo de arroz, tendo essa prática sido abandonada a partir do início da década de 1960, subsistindo actualmente algumas áreas de cultivo agrícola a montante e a jusante, para além da via férrea. Este abandono foi originado pela repartição da área agrícola em pequenas parcelas associada às condições físicas do Paul que não possibilitava a utilização de maquinaria, tornando impraticável a agricultura sustentável. Assim, presentemente somos contemplados com um santuário para a fauna e flora.

Vista parcial do paul da Madriz, com a torre de observação

Visita:

A progressão neste paul é difícil e a observação da avifauna aquática a partir das vertentes também é dificultada pelo facto de esta zona húmida estar rodeada de bosques ripícolas. Mas porque “só se ama o que se conhece, e só de pode querer conservar o que se ama” são sugeridos uma série de percursos, que possibilitam percorrer o paul e a sua área envolvente, bem como parte do vale do Rio Arunca.

O visitante que pretenda conhecer o Paul da Madriz deve iniciar os percursos num dos três pontos assinalados. Para lá chegar pode optar por dirigir-se na sua viatura directamente aos locais referenciados ou então, partir das povoações limítrofes aproveitando as estradas de terra e percorrer arrozais, pinhais, galerias ripícolas e terrenos agrícolas, onde poderá observar uma fauna e flora abundante. Aconselhamos iniciar a visita a partir da povoação de Alfarelos e dirigir-se aos campos de arroz, mais conhecidos por Paul de Alfarelos. Face à posição de altitude elevada em relação ao vale do Rio Arunca, apreciará uma paisagem deslumbrante. Caso opte por partir de Vila Nova de Anços, deve percorrer a estrada de terra marginal ao Rio Arunca. Aconselhamos a subida ao Outeiro da Nª Srª dos Remédios, local onde poderá apreciar a vista sobre o Paul da Madriz e o Vale do Baixo Arunca. e pretender iniciar a sua marcha em Ribeira da Mata, percorrerá uma área agrícola, pinhal e apreciará um dos maiores bosques ripícolas que rodeiam esta zona húmida. As povoações referenciadas situam-se ao longo da estrada que liga as localidades de Soure e Montemor-o-Velho.

 

Percurso 1
No início deste percurso, aproveitando a altura do viaduto obtém-se uma excelente panorâmica dos arrozais do Baixo Arunca e do vale onde está encaixado o Paul da Madriz. O facto de os arrozais serem um meio
semi-aquático confere-lhes uma importância redobrada em termos de área de alimentação para a avifauna. Os arrozais partilham a importância dos lagos e charcos relativamente às garças e limícolas, quer na época de migração, quer no Inverno nomeadamente por espécies como a garça-real, o colhereiro, o papa-ratos, a cegonha-branca, o combatente, o maçarico-de-bico-direito, o abibe e o maçarico-galego.

Daqui deve seguir em direcção ao Casal do Redinho, percorrendo maioritariamente zonas agrícolas e alguma floresta e matos A sua localização sobranceira ao paul torna este local importante como área de repouso e de reprodução de diversas aves de rapina, como são os casos do bútio-comum, do milhafre-preto, da ógea, do peneireiro, do açor e do gavião, que aqui nidificam.
Quando chegar à povoação, deve continuar pela primeira rua alcatroada situada à sua direita que atravessa parte do aglomerado urbano, até encontrar outra pequena rua que parte do largo principal para o Paul da Madriz. Aqui deve rumar para sul, em direcção à zona húmida, percorrendo alguns campos agrícolas. Logo após o término da área urbana deve escolher uma pequena estrada em terra situada à direita que nos vai levar pela área envolvente do paul. Depois de atravessarmos uma depressão de terreno, seguir por um caminho carreteiro para sul até atingirmos um poste de suporte de linhas eléctricas de média tensão. Um pouco mais à frente escolher o caminho esquerdo até alcançarmos um lavadouro público que se encontra desactivado. Logo após ultrapassarmos esta estrutura, à esquerda, escolher um pequeno carreiro que nos vai levar até uma estrada de terra que percorre terrenos agrícolas na sua parte plana e pinhal na sua zona terminal. Já próximo da parte final do percurso, atingirá o Paul da Madriz. Neste ponto, além do caniço e do bunho, este biótopo é composto também por tabuas, juncos e junças. Regista-se a ocorrência de inúmeras espécies de aves nidificantes, entre as quais rouxinol-bravo, garçote, garça-vermelha, tartaranhão-dos-pauis e rouxinol-pequeno-dos-caniços. Este biótopo desempenha um papel primordial na migração outonal de passeriformes trans-saarianos, sendo possível observar os bandos pré-migratórios de andorinhas que
utilizam o caniçal como dormitório.

No período de Inverno, é possível observar aqui importantes concentrações de marrequinha que utiliza este meio como refúgio. Para atingir o término do percurso, deve voltar para trás, sempre pelo caminho de terra até chegar à estrada de terra que percorreu no início do percurso.

 

Percurso 2
É no largo principal do Casal do Redinho que tem início o percurso 2. Daqui deve seguir para sul, obedecendo a uma placa identificativa presente neste local até atingir o término da área urbana. Prosseguir por um caminho de terra situado à direita, que percorre pequenas extensões de terrenos agricultados, muito parcelados e de áreas muito pequenas ocupados por olival, vinha, hortas, pomares e culturas arvenses. Este mosaico diversificado oferece um leque variado de condições de alimentação ao longo do ano, sendo utilizado por um grande número de espécies faunísticas, o que atesta a sua importância. Verifica-se a sua utilização como terreno de caça pela coruja-do-nabal, bem como a presença no Inverno de bandos de passeriformes, constituídos principalmente por petinha-dos-prados e tentilhão. São também de referir espécies como a petinha-dos-campos, a cotovia-arbórea, a ferreirinha-comum e, na migração, o papa-moscas-preto.
Logo que atinja o ponto de separação com o percurso 1, deve prosseguir por um caminho carreteiro à sua esquerda até encontrar uma estrada de terra. Prosseguir para sul até atingir uma eira com uma estrutura em madeira que já foi utilizada como observatório de aves e que actualmente é usada como apoio às actividades desenvolvidas pelo ICNB neste local. Seguir por um caminho carreteiro que acompanha o paul para nascente e usufrua da elevação do terreno para apreciar toda a área de caniçal e salgueiral da zona central do paul. Quando atingir uma estrada de terra no sentido para norte, prossiga em direcção à povoação do Casal do Redinho, local onde este percurso termina.

 

Percurso 3
Tem início na “entrada” do paul, junto a um painel informativo sobre o Paul da Madriz. Prosseguir pela estrada alcatroada em direcção a Vila Nova de Anços, até encontrar uma estrada de terra do lado direito. Seguir sempre por esta estrada, até atingir o limite da cumeada. Este percurso atravessa uma zona de pinheiros e matos, sendo possível aqui observar algumas das rapinas recenseadas nesta zona, como o açor, o gavião, a coruja-do-mato e o bufo-pequeno. No limite da cumeada, flectir para a direita, utilizando um caminho carreteiro até alcançar um poste de transporte de linhas eléctricas de média tensão. Desta zona pode apreciar toda a zona poente do paul, formado por caniçal, lagos e valas, onde pode observar a colónia de garça-vermelha e os anatídeos, bem como grande parte dos arrozais do Baixo Arunca. Deste ponto, seguir ao longo das linhas eléctricas em direcção a sul, ultrapassando uma antena de telecomunicações, descendo por uma estrada de terra até atingir uma área agrícola. Seguir por uma estrada de terra que se inicia do lado esquerdo, até atingir novamente a linha de cumeada, efectuando-se o caminho em sentido inverso ao percorrido no início deste percurso, até atingir novamente o painel informativo. Junto a este painel, pode iniciar um pequeno percurso que o vai levar até ao centro do paul, ao longo da Vala do Moinho, atravessando um conjunto de formações aluvionares, constituídos por diversos salgueiros, amieiros, freixos-de-folha-estreita, sanguinhos-de-água e ulmeiros. Constitui um bom pouso de vigia para rapinas, nomeadamente o tartaranhão-dos-pauis, o gavião e o açor. É também utilizado como habitat de nidificação pela coruja-do-mato e por diversos passeriformes, tais como felosa-poliglota, rouxinol-bravo e chapim-rabilongo. No Inverno é ainda utilizado por espécies como a estrelinha-real, o dom-fafe e o lugre.

Melhor época: todo o ano

Distrito: Coimbra
Concelho: Soure
Onde fica: O Paul da Madriz localiza-se na região Centro, imediatamente a Sul da povoação do Casal do Redinho, na baixa do Rio Arunca, sensivelmente a meio caminho entre Montemor-o-Velho e Soure. Próximo às auto-estradas A17, A14 e A1.